O Divórcio da Extensão Rural
Nizomar Falcão Bezerra (*)
O XIV Congresso da Federação dos Trabalhadores da Assistência Técnica Extensão Rural e do Setor Público Agrícola do Brasil (Confaser), realizado no período de 12 a 15 de junho, em Brasília, deliberou sobre a ruptura entre a Assistência Técnica e a Extensão Rural, pondo fim a uma união que remonta a Revolução Verde. Apesar da relevância dos temas tratados que ampliaram a discussão sobre a realidade do meio rural, a qualidade de vida dos agricultores familiares, as populações tradicionais, as condições de trabalho dos trabalhadores da Extensão Rural e da pesquisa pública, essa questão destacou-se pelo caráter inusitado e revolucionário da proposição.
A proposta da revolução verde surgiu após a segunda guerra mundial na esteira das necessidades de aumentar a produção agrícola, para garantir segurança alimentar e nutricional, para um mundo cada vez mais necessitado de alimentos. Erradicar a fome no mundo pela introdução de novas técnicas agrícolas, geração de emprego em áreas de climas extremos, novos modos de corrigir-se a acidez dos solos – como no caso do cerrado brasileiro -, bem como, o uso intensivo de máquinas e equipamentos agrícolas, era uma narrativa que ressoava em todas as esferas de decisão preocupadas com a modernização da agricultura. Foi um desafio imenso que os profissionais das ciências agrárias e os extensionistas, especialmente, tiveram que lidar.
Argumentam os defensores dessa ideia da ruptura da Assistência Técnica com a Extensão Rural, que a fase de aumento da produção foi atingida e bem-sucedida; todavia, esta deixou sequelas, como elevação da degradação ambiental, do desmatamento, do acréscimo do uso de pesticidas nas lavouras e, problemas de insegurança alimentar e nutricional, para um elevado contingente populacional. Resta, portanto, segundo os defensores da proposição, à Extensão Rural, corrigir tais efeitos colaterais e distorções. Por outro lado, defendem os trabalhadores da extensão rural, que esse rompimento não se trata de apenas uma roupa nova em velhos corpos, mas essencialmente, vestimentas novas em novos corpos.
O evento notabilizou-se, também, pelo fato de discutir a sustentabilidade e fortalecimento da Assistência Técnica e Extensão Rural (Ater) na era digital, reconhecendo que a Ater atravessa um momento de crise, o que se impõe repensar caminhos para lidar com a escassez de recursos, materiais e financeiros, reformulação de ações e parcerias, concentração de esforços para continuar prestando um serviço de qualidade aos agricultores, mediante a elevação do uso de ferramentas digitais adequadas às necessidades dos agricultores. Reconhece-se, ainda, que as instituições estatais estão com o quadro de mão de obra com idade avançada, defasada, mal remunerada, utilizando métodos e ferramentas ultrapassadas, obsoletas. Metodologias que foram muito úteis no século XX, mas que não atendem às expectativas dos agricultores do século XXI, precisam ser revisitadas.
Por fim, o Confaser crer que chegou a hora da assistência técnica soltar a mão da extensão rural e caminharem sozinhas, com autonomia.
(*) Ph.D. Nizomar Falcão Bezerra – Eng. Agrº. Ematerce, Associado da Assema e membro da executiva nacional da FASER.