Para onde vai a assistência técnica da extensão rural?
Por Lauro E. Bernardi (*)
Escrito em 20 de fevereiro de 2024
Inicio essa parla com um cartum do Quino, argentino que partiu em 2020, criador da querida personagem Mafalda, sempre atual.
Observando a descrição de meu cargo e função do Plano de Cargos e Salários (PCS), percebo quanta distância existe entre o que deveria fazer e o que de fato estou fazendo. Por maior disciplina que se tenha para a auto capacitação ante a absurda demanda, não se consegue alcançar a expertise que tal função exige. E neste nível de distanciamento a que somos conduzidos, operando só o possível, muito aquém da necessidade.
Nas conversas que realizamos (GT ATERS), com as representações da academia, pesquisa e principalmente dos distintos públicos a qual a extensão rural se destina, fica a leitura de ‘uma entrega’ muito abaixo da expectativa manifesta, embora diariamente ‘nos viramos nos trinta’. O cenário vivenciado pela agricultura convencional, desenvolvida historicamente em pequenas áreas, passa por um momento de muita pressão por escala e desafio gigante de geração de renda que permita às famílias cobrir custos produtivos e viver com dignidade. Muitos estão sendo excluídos por não terem como adquirir a espiral tecnológica que nosso colega Costa Beber muito bem caracterizava.
Neste momento, MUITAS famílias buscam alternativas, necessitando de apoio efetivo para fazer frente a esta realidade. Transição é momento de vulnerabilidade e, o saber necessário está em construção. Não há receita, exige-se protagonismo efetivo de todos envolvidos na (re)contrução da complexidade do fazer Agri-culturas.
Qual Papel das equipes de ATERS neste contexto?
Para falar do ressignificado espaço de trabalho que percebo junto às famílias rurais neste momento, tomo emprestado o quadro abaixo de autoria do Engenheiro agrônomo e pesquisador da Embrapa Trigo de Passo Fundo, Jose Eloir Denardin, proferida durante uma palestra sobre solos realizada no município de Arroio do Meio (ele também atuou como assistente técnico e extensionista rural entre 1975 a 1976 na ASCAR-RS).
Já ouvimos muitas vezes que a informação hoje está disponível na palma da mão. Correto e verticalizará com uso da inteligência artificial. Entretanto, quem entra pela porta dos Escritórios Municipais em busca de suporte, já acessou os protocolos. Busca conhecimento e segurança para avançar, pois teoria sem a vivência não se sustenta. O segundo campo deste quadro síntese, da energia aplicada e do saber fazer, deveria ser urgentemente reconstituído enquanto pilar dos serviços de ATERS.
Bueno, enquanto um dos atores que operam no espaço rural, somos instados a responder cada vez mais a dilemas técnicos que, se qualificados, farão a diferença. Não é retorno barato à tese do tecnicismo e do produtivismo, mas uma cobrança de melhores e maiores respostas da assistência técnica e social embutidas na extensão. Estamos preparados para esse suporte? Percebo que não. A desestruturação das funções e a sobrecarga que nos faz operar no piloto automático do generalismo, nos apequenaram. Como exemplo pragmático e repetitivo, vou da ausência de um elementar folder atualizado em todas as áreas de atuação Institucional à falta de um programa de nivelamento dos extensionistas estrategicamente pensado a partir de cenários traçados com a profundidade necessária. Nem mais, já há quase 10 anos, empregados são selecionados por processos internos, para disputar mestrados e doutorados nas Universidades Públicas com propósito de atualizar a instituição no estado da arte de áreas fundamentais.
Iniciei e finalizo me referindo ao PCS. Mesmo que o consideremos parcialmente defasado, ele explicita organização mínima de áreas para que o todo Institucional funcione. Essa senhora Instituição requer oxigenação mediante concurso interno para provimento destas funções que fazem enorme falta organizativa (há mais de 160 anos a abiogênese – teoria da geração espontânea foi refutada). Diria mais: necessita profissionalizar a gestão em todos os níveis! Mas esse é tema que gostaria de abordar n’outro momento oportuno.
(*) Lauro E. Bernardi é ERNS II – ATR na Emater/RS-Ascar.