A importância de uma ATER Social fortalecida e valorizada
Por Luana Lucas Alves (*)
Os(as) Extensionistas Sociais da EMATER/RS-ASCAR vivem uma constante ameaça enquanto categoria quando se trata da necessidade de corte de recursos, pois é a área mais afetada. Assim como também sofre outro tipo de ameaça quando é chegado o momento de comprovação da natureza filantrópica da ASCAR e apresentado quantos milhões a NÃO realização deste trabalho representa. Trabalho que é realizado de forma contínua e permanente, sendo anualmente avaliado, planejado e entregue relatório e plano aos Conselhos Municipais de Assistência Social. Apesar de ser planejado para toda a equipe desenvolver, acaba, muitas vezes, sendo de responsabilidade exclusiva do(a) Extensionista Social, que assina e executa os planos. Sem, de forma alguma, desfazer do trabalho realizado pelos(as) colegas da área técnica agropecuária, que é bastante valorizado por sinal dentro da instituição, me detenho neste artigo a destacar o trabalho da área técnica social, que tem sido questionado, tanto externamente, quanto internamente.
Temos na história da EMATER/RS-ASCAR um legado de trabalho integrado e multidisciplinar, que confere a assistência técnica e extensão rural que realizamos a credibilidade que tem. Se focarmos na trajetória do trabalho social tivemos muitos (as) colegas que desempenharam um papel fundamental na construção de importantes políticas públicas como SUAS, SUS, PNAE, PAA, desde a mobilização das famílias lá nas comunidades mais distantes, organização e realização das conferências, presidindo muitos conselhos municipais, até a sua participação nas Conferências Nacionais que originaram muitas leis, sistemas, programas e políticas que existem hoje. Talvez a EMATER/RS-ASCAR não tenha esse histórico registrado, mas ele está vivo na memória de cada um(a) que dedicou sua vida e trabalho a nossa entidade, estejam elas na ativa ainda ou aposentadas.
Trago a reflexão também de quantas contribuíram na construção de importantes Políticas Municipais, como inclusão de Plantas Medicinais no SUS, cumprimento de legislações, capacitação de merendeiras, criação de rotas turísticas, construção de projetos que trouxeram muitos recursos aos municípios e fizeram com que chegasse a quem de fato necessita. Quantos (as) colegas foram responsáveis por colocar o profissional da prefeitura dentro do carro e levar onde nunca nenhuma outra entidade chegou?
O(a) profissional extensionista social da EMATER/RS-ASCAR, inicialmente contratados(as) pela sua formação no Magistério ou Curso Normal, hoje adquiriu outras formações/qualificações, tendo grande parte de seu quadro especialização e mestrado em áreas afins ao seu trabalho. Fizeram da sua prática seu instrumento de pesquisa e formação, contribuindo não só com as famílias, mas também com a qualificação do quadro funcional da instituição.
Somos nós hoje que lidamos com as “vítimas do progresso” ou aqueles que ficaram à margem dele, pois esses planos socioassistenciais os quais executamos, que conferem a Certificação de Entidade Beneficente de Assistência Social à ASCAR, são desenvolvidos com quilombolas, indígenas, pescadores e agricultores familiares em situação de vulnerabilidade social. Aprendemos enquanto extensionistas sociais a estar ao lado dessas famílias assumindo retaguardas, construindo alianças e compondo junto com elas, que são detentoras do conhecimento de manutenção da vida. E é por isso que até hoje elas existem e sobrevivem, resistindo a tantas práticas de desenvolvimento rural que foram aniquiladoras e que, muitas vezes, retiraram a possibilidade de sustentabilidade dessas famílias.
Vivemos um momento em que existem 18 milhões de pessoas em situação de fome no Brasil, conforme a Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (Rede Penssan), sendo os índices de Insegurança Alimentar mais expressivos na área rural; 56% da população com sobrepeso e 19 % com obesidade. Precisamos refletir sobre uma nova visão da produção agrícola sustentável. As estimativas da FAO (2011b, apud PREISS, P. V., & SCHNEIDER, S. 2020) sugerem que o empoderamento econômico das mulheres rurais através de um acesso igualitário aos recursos produtivos poderia aumentar a produção em suas lavouras em 20-30 %, retirando 100-150 milhões de pessoas da fome. Como pensar essas questões sem considerar a dimensão social? Se focarmos apenas numa assistência técnica e extensão rural focada na questão agrícola, que precisa levar progresso e tecnologia às famílias para retirá-las de um lugar que consideramos que elas não podem viver, esquecendo o cunho social, estaremos deixando de lado outras dimensões do bem viver, que envolve os jovens, as mulheres, o artesanato, a agregação de valor aos produtos e outras possibilidades de geração de renda e de sobrevivência que essas famílias vem construindo com o apoio dos(as) extensionistas sociais.
Finalizo reforçando a importância do trabalho integrado e interdisciplinar em cada escritório municipal da EMATER/RS-ASCAR, com valorização de fato e de direito do trabalho socioassistencial realizado, previsão de recursos, capacitação e qualificação desses profissionais para dar conta da nova configuração do meio rural.
(*) Luana Lucas Alves é extensionista social e Presidente da Associação dos Extensionistas Sociais Rurais do Rio Grande do Sul – AESR/RS