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EMATER/RS ASCAR 70 anos: do início às políticas de ATERS, colegas destacam momentos marcantes da instituição

 EMATER/RS ASCAR 70 anos: do início às políticas de ATERS, colegas destacam momentos marcantes da instituição

Junho marca os 70 anos de criação da ASCAR, marco que revolucionou a extensão rural e, por consequência, a economia do Estado. Durante este tempo, muitos foram os momentos marcantes, tanto para a instituição quanto para a ASAE – que, nascida dentro de um contexto de reabertura política, logo se tornou coprotagonista da história da EMATER/RS ASCAR. Convidamos três colegas, atualmente aposentados, para destacar ações históricas, que mudaram o caminho da instituição e a trouxeram até o local que ocupa hoje, de serviço DE ESTADO que entrega excelência ao público assistido, apesar das dificuldades.

Primórdios e desafios

A criação da ASCAR marcou o início da assistência técnica e extensão rural no Rio Grande do Sul. Em suas primeiras duas décadas de atuação, reinou soberana como articuladora e implantadora de políticas para o que, à época, era chamado de agropecuária. Os desafios advinham da garantia de orçamento e do recrutamento de recursos humanos. Porém, no final dos anos 1970, uma verdadeira onda de transformação chegou à instituição.

“Eu era extensionista de campo, quando nos informaram que a ASCAR estava prestes a ser extinta. No primeiro momento foi um susto. Passados uns dias, foi nos esclarecido que era intenção do Governo Federal substituir todo o sistema ACAR, entre elas a ASCAR, pela EMATER”, conta Terezinha Marques Flôr, extensionista rural social aposentada e ex-diretora superintendente da FAPERS. Ela relembra que, mesmo contrariando esta intenção, a ASCAR foi mantida, especialmente pela sua condição de entidade filantrópica com isenção da contribuição patronal para o INSS, o que representa considerável economia de recursos. “E, em 1980, foi firmado um protocolo de operacionalização conjunta, no qual os empregados pertencem a ASCAR e as duas instituições executam os seus programas possuindo os mesmos objetivos e missão.”

Com um novo escritório Central inaugurado na capital em 1980, o novo desafio da – agora – EMATER/RS ASCAR passou a ser escalonar o atendimento a agricultores em todos os rincões do Estado.

O “PROJETÃO”

“Foi nesta época que assumi a presidência da instituição, com apenas 39 anos e com uma visão do que era vida do extensionista no campo graças à vivência em escritório municipal de Rio Pardo”, conta Lino Hamann, ex-presidente da EMATER/RS ASCAR. Ele comenta que a visão dos desafios no campo permitiu criar um projeto para aumentar a assistência técnica no Estado com base no aumento de arrecadação do ICMS. O “Projetão”, como ficou conhecido, resultou na contratação de cerca de 400 pessoas e a interiorização da assistência técnica, com técnicos sediados nas comunidades rurais, coordenados por um agrônomo, e desenvolvendo as atividades ao lado dos agricultores. “O Lino pensava que o técnico tinha que morar na comunidade e conviver com os agricultores e suas famílias”, respalda Terezinha. “Praticamente a totalidade dessas comunidades hoje são municípios. Isso me deixa muito feliz”, comemora Hamann.

Na mesma época, foi criado a FAPERS – fundação responsável por administrar a previdência do corpo funcional da instituição. “A mesma foi criada com o objetivo de garantir um futuro mais estável e seguro para os ematerianos”, explica Terezinha, comentando que, até sua criação, colegas dependiam do INSS para se aposentarem. Para Hamann, a FAPERS promove a oxigenação do quadro de Recursos Humanos da EMATER/RS ASCAR, já que “permite às pessoas ingressarem enxergando um patamar, lá na frente, de uma vida melhor e de uma aposentadoria razoável”. “Conforme depoimentos de muitos aposentados, os objetivos propostos estão sendo alcançados”, complementa Terezinha.

A ASAE, o Repensar e o protagonismo da categoria

Os anos 1980 também marcaram o surgimento da ASAE, fruto da organização de colegas em busca de direitos. Criada em 1984, a Associação logo assumiu um caráter propositivo dentro da instituição, tanto na melhoria de condições de atuação para a categoria quanto na busca por qualificar os serviços.
Luis Alberto Trindade, extensionista rural aposentado e ex-presidente da Associação, destaca três momentos cruciais, em que a trajetória das duas entidades se cruzam: o Repensar da Extensão Rural, o movimento constituinte e o Seminário Nacional que lançou as diretrizes para uma nova filosofia de extensão, que se tornariam as bases da nova política de ATERS.

“O Repensar surgiu de uma paralisação promovida por colegas em 1986, um movimento muito forte, com propostas concretas para envolver o público assistido e melhorar a qualidade de vida das famílias de agricultores atendidas”, relembra. Tamanha força da categoria chamou a atenção da gestão da EMATER/RS ASCAR, que propôs à ASAE unir-se ao movimento. “O resultado foi a formação de um grupo de trabalho com representantes da ASAE e da EMATER, de todos os níveis, e cujo relatório final foi oficializado e aplicado, trazendo importantes ferramentas utilizadas até hoje.” Dentre os pontos do documento, Trindade salienta a intensificação de metodologias participativas nos serviços para melhorar o atendimento ao público; a democratização da gestão, com eleição para cargos de chefia em todos os níveis – inclusive um diretor, a busca da institucionalização de recursos para a instituição, o que não havia até entao, e a definição de um formato juridico mais estável.

Concomitantemente, durante o movimento constituinte no Brasil e no Estado, a ASAE, juntamente com outras entidades representativas da categoria, como a FASER, conseguiu interceder junto ao congresso para aprovar artigos que colocaram a extensão rural como serviço público oficial. “Atualmente, este feito é uma das garantias de recursos e do serviço em si”, afirma Trindade.

Outro grande feito da Associação com desdobramentos positivos para a EMATER/RS ASCAR foi a realização, em 1997, do Seminário Nacional de extensão rural, com participação das instituições como ABRASER, FASER, FETAG, além de governo, entidades parceiras e ONGs. “Foi ali que foram aprovadas as diretrizes para uma nova filosofia de extensão, lançando as bases da nova política de ATERS – transformada em lei em 2003 – e trazendo um atendimento mais efetivo e completo para a agricultura familiar”, conta, ressaltando os reflexos na etapa regional realizada no RS e promovida pela ASAE. “O grande resultado foi a mudança da missão da EMATER/RS ASCAR, que passou a ter a meta de desenvolvimento rural sustentável e a priorizar a agricultura familiar e a implementação do processo de formação de trabalhadores para atuar com este novo foco – algo fundamental quando se pensa no rumo que o trabalho tomou neste novo século.”

Importância e o futuro

Os três ressaltam a inconteste importância do trabalho da EMATER/RS ASCAR para o Rio Grande do Sul. “A extensão rural vem para responder às demandas da agricultura familiar de pequeno e médio porte. Eu considero isso um marco histórico que até hoje perdura”, acredita Hamann.

Terezinha lembra que, sendo o Rio Grande do Sul um dos maiores produtores de alimentos do Brasil, onde 80% dos estabelecimentos pertencem a agricultores familiares, é indiscutível que a Extensão Rural deva estar presente. “É de responsabilidade do Estado criar políticas públicas eficientes e sérias, e que tenha agentes de desenvolvimento capacitados para que possam apoiar, incentivar e ajudar os agricultores familiares. A Emater, por ser o órgão que leva a Extensão a todos os 497 municípios é de imensurável importância para o Estado do Rio Grande do Sul.”

Já Trindade reconhece a importância do trabalho para o desenvolvimento econômico, social e ambiental do Estado, e também da qualidade de vida da agricultura familiar – responsável pela maior parte da produção de alimentos para a sociedade gaúcha. E também faz um alerta: “A ASCAR passou por momentos difíceis, com ameaça de corte de recursos, redução orçamentaria, cortes de serviços municipais e mesmo de extinção. A ASAE sempre interviu, com mobilizações em todos os níveis, tanto para frear estas ameaças quanto para conquistar melhorias. Frente aos novos desafios, é fundamental manter o espírito coletivo e combativo”.