Agricultura familiar frente as mudanças demográficas atuais

 Agricultura familiar frente as mudanças demográficas atuais

Por Anderson Denardin Cardoso (*)

Com o lançamento dos primeiros resultados de população do Censo Demográfico 2022/2023 há poucos dias, realizamos com base nos dados preliminares, divulgados no final de dezembro de 2022, uma breve analise das mudanças demográficas mais recentes no Estado do Rio Grande do Sul. Embora ainda não tenhamos os recortes consolidados por faixa etária, sexo e demais variáveis, observamos que 42 municípios gaúchos têm atualmente menos de 2000 habitantes, em comparação aos 31 municípios em 2010. Isso indica uma diminuição ou migração da população em algumas cidades do Estado nos últimos treze anos, sugerindo um esvaziamento populacional nesses municípios.

Esses números refletem o cenário geral, no qual 271 dos 497 municípios gaúchos tiveram uma redução percentual em sua população, o que representa quase 55% do total de cidades do Estado. Além disso, 19 municípios mantiveram estabilidade em sua população, enquanto isso, 206 cidades apresentaram alguma variação percentual positiva. Ainda assim, somente 66 cidades tiveram um aumento de população entre 1% e 5%, o que representa uma estabilização demográfica.

Abaixo no gráfico, podemos visualizar o comportamento do crescimento da população gaúcha desde segunda metade do século XIX, onde é visível o início da estabilização populacional a partir dos anos 2000.

Na contramão desse contexto, destaca-se com expressivo aumento populacional, municípios do litoral, como Arroio do Sal, Capão da Canoa e Imbé, que registraram aumentos de 44%, 48% e 53%, respectivamente, em relação ao censo anterior. Isso pode ser atribuído à presença significativa de habitantes adultos e idosos que migram para regiões litorâneas na fase da aposentadoria. Por outro lado, municípios como Cruzaltense, no norte do estado, teve uma redução de 24% em seus moradores, seguido por Passa Sete, na região central, com os mesmos números.

Destaca-se que somente 19 municípios possuem população maior que 100 mil habitantes, concentrando 47% de toda população do Rio Grande do Sul, estimada nesta pesquisa em exatamente 10.880.506 milhões de gaúchos. A capital Porto Alegre é responsável por concentrar 1.332.579 milhões de moradores, a maior cidade em população, enquanto a cidade de André da Rocha na serra gaúcha com 1.135 habitantes, o menor, inclusive constando como uma das 10 cidades menos populosas do Brasil.

Essa conjuntura já é percebida no trabalho diário dos(as) extensionistas rurais do Estado, com maior incidência na população rural, seja durante visitas a propriedades ou em outros métodos de trabalho. Essa diminuição populacional notadamente, destaca-se nos pequenos municípios gaúchos, caraterizados pela prevalência da agricultura familiar como base econômica, permeando esta atividade ao seu modo de vida, a cultura e as relações sociais, o que implica em desafios crescentes para esse grupo socioeconômico, principalmente em relação a escassez de mão de obra nas propriedades rurais, menos mecanizadas e dependentes dessa força de trabalho.

Esse cenário expõe também a falta de reposição geracional, já que a sucessão familiar é um elemento essencial na agricultura familiar, sendo constatado também, a saída de jovens em busca de outras atividades de trabalho em áreas urbanas, reduzindo ainda mais a disponibilidade de mão de obra e a capacidade de renovação das propriedades rurais. Adicionamos ainda, o envelhecimento da população em geral, onde é acentuada prevalência nos espaços rurais. Estes são desafios adicionais, notadamente que a força de trabalho idosa, enfrenta limitações físicas e necessita de suporte para garantir a sustentabilidade das atividades agrícolas realizadas.

Por fim, espero ampliar esse dialogo posteriormente em novos artigos, aprofundado a análise dos dados do censo demográfico, com recortes detalhados por região, sexo, idade e renda, para corroborar ou não a consolidação de fenômenos como masculinização das atividades mais tradicionais do trabalho agrícola, o êxodo dos jovens de regiões e atividades menos tecnificadas, robustecendo a tendência de esvaziamento demográfico dos espaços rurais gaúchos. Com isso, gostaria de deixar uma pergunta para os leitores refletirem e contribuírem nesse espaço posteriormente: As atuais ações executadas pela extensão rural, por políticas públicas, sejam nas 3 esferas governamentais e nas instituições privadas, estão impactando de qual forma esse horizonte para mitigar um agravamento que projeta-se no tempo?

(*) Anderson Denardin Cardoso é sociólogo e extensionista rural social da Emater/RS-Ascar. E-mail: mr.andersondc@gmail.com

ASAE

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