Para se avançar na discussão do SOCIAL na Emater/RS-Ascar
Por Robson Becker Loeck (*)
O realizar da Extensão Rural no Brasil, apesar da existência de diferentes visões ao longo da sua história, sempre buscou a complementariedade de duas áreas, que podem ser caracterizadas como: agropecuária e social. As linhas abaixo buscam abordar a área social, especificamente, na Emater/RS-Ascar. O objetivo é lançar luzes, ou mesmo fazer algumas provocações, com base na experiência de participação em atividades de duas gestões da Associação dos Extensionistas Rurais do Rio Grande do Sul (AESR/RS).
De início, importante ressaltar que a área social foi preenchida nos seus primórdios, exclusivamente, por mulheres, que continuam a ser maioria nos dias atuais. Isso é muito significativo que seja dito, pois muitos “problemas” que se apresentam não são propriamente da área social em si, mas de ordem misógina e relacionados a várias formas de assédio, ou seja, de desvalorização do trabalho executado por mulheres. Tudo isso, e que não é pouco, já externado no documento “Para Pensar o Futuro do Social na Emater/RS-Ascar”, da AESR – e em recente pesquisa realizada e divulgada pelo GT de Gênero da Associação dos Servidores da Ascar-Emater/RS (ASAE), como também, em lives realizadas por ambas as Associações – tiveram o intuito de informar, conscientizar e prevenir o acontecimento de tais práticas.
Contudo, apesar da importância, o interesse aqui é pela diferença salarial e de atuação dos empregados e empregadas da área social, mais especificadamente, daqueles e daquelas que são considerados extensionistas rurais e estão distribuídos em dois grupos: nível médio e nível superior.
Nesse sentido, algumas questões, ainda que dispersas pelos “corredores”, perpassam a área social já há algum tempo:
a) a área social é importante?;
b) profissionais técnicos de nível médio continuam atendendo as necessidades da extensão rural?;
c) profissionais de nível superior devem atuar na extensão rural? Caso sim, quais profissionais? Quais graduações, com seus conhecimentos específicos, melhor atendem as necessidades?;
d) profissionais de nível médio e de nível superior realizam “as mesmas coisas” no dia a dia de trabalho?; e
e) profissionais de nível médio e de nível superior devem receber o mesmo salário?
Em relação à primeira, sendo a Ascar uma entidade possuidora da Certificação de Entidades Beneficentes de Assistência Social (CEBAS), não há o que se discutir. No máximo, então, levar em consideração o quanto, internamente, é considerada de fato importante e valorizada pelos gestores e corpo funcional. Já as demais questões não são de fácil resposta e não se tem a pretensão de respondê-las, mas tão somente apresentar alguns elementos para tal.
Como se sabe, a sociedade é dinâmica e, desde a criação da Ascar, em 1955, o rural e sua população passaram por transformações. Em virtude disso, na década passada, gestores da Emater/RS-Ascar entenderam ser importante “chamar” profissionais de nível superior para contribuir com a extensão rural gaúcha e o desenvolvimento rural, sem a intenção de desmerecer o trabalho realizado pelos profissionais de nível médio. Diante disso, dá pra dizer que é possível o convívio dos profissionais de nível médio e superior na extensão rural, entretanto, se faz necessário saber o que deles se espera.
A Emater/RS-Ascar, conforme procede de maneira geral o mercado de trabalho, melhor remunera os profissionais de nível superior, mas, talvez, não tenha delimitado com maior exatidão as suas atribuições, o que acaba por possibilitar interpretações diversas e, em alguns casos, descontentamentos. Soma-se a isso o fato de que praticamente 100% dos profissionais de nível médio possuem um diploma de graduação e, provavelmente, tem a dificuldade de se despir do conhecimento adquirido no dia a dia de trabalho. O inverso também poderia ser apontado, em situações em que os “novos” profissionais de nível superior, não por sua vontade, mas em respeito a determinação dos seus superiores, seriam levados a atuar como profissionais de nível médio.
Sejam quais forem as situações vivenciadas nas diferentes unidades operativas, é preciso ter em mente que não se pode exigir de um profissional de nível médio aquilo que ele não possui, ou seja, conhecimentos específicos de um curso de graduação. Dele, historicamente, se tem exigido o saber fazer daquilo que a própria Emater/RS-Ascar o ensinou para atuação na extensão rural. Por outro lado, caso esses profissionais estejam utilizando conhecimentos de graduação em tarefas diárias que a extensão rural, porventura, tenha passado a exigir, tal situação merece muita atenção, já que possivelmente estão “contribuindo a mais” e “recebendo a menos” por isso.
Considerando ser possível a existência dessa situação, e caso confirmada, não seria interessante os profissionais de nível médio, possuidores de graduação, serem mais valorizados monetariamente? E, com graduados de diversas áreas do conhecimento, atualmente exercendo atividades no rural, e considerando os profissionais de nível superior aptos para atuar no Sistema Único de Assistência Social, é válido continuar a realizar seleção externa para extensionistas sociais de nível médio?
(*) Robson Becker Loeck é sociólogo. Foi integrante da diretoria da AESR/RS em duas gestões e, atualmente, integra a diretoria da Asae.