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As novas tecnologias de comunicação na ATER?

 As novas tecnologias de comunicação na ATER?

Robson Becker Loeck e Marines Rosali Bock (*)

É importante dizer, já de início, que nas breves linhas a seguir não será negada a importância das novas tecnologias de comunicação para a realização da Assistência Técnica e Extensão Rural (ATER). Trata-se de uma reflexão sobre como o uso delas está sendo, de modo geral e dicotômico, proposto ou apropriado pela ATER, pois a história da humanidade já demonstrou ser inútil tentar “barrar” tecnologias, ao mesmo tempo, que o “problema” não são elas, mas sim, a forma e os propósitos de sua utilização.

A internet, os sites, os blogs, as redes sociais e, agora na pandemia, as plataformas de conversação online não são mais novidades no meio rural, ainda que sejam utilizadas de formas desiguais pelos diversos públicos que o compõe. As famílias consolidadas, algumas detentoras de grandes quantidades de terras, que muitas vezes dividem o seu tempo entre o rural e o urbano, possuem ao seu dispor mais recursos financeiros e infraestrutura para acessá-las. De outro lado, parte significativa das famílias de agricultores e pecuaristas familiares, assentados da reforma agrária, indígenas, quilombolas e pescadores artesanais, que são os públicos da ATER pública ofertada no Rio Grande do Sul, ainda têm um acesso e contato limitado com as novas tecnologias de comunicação.

Então, uma primeira constatação a ser feita é de que o acesso às informações e às novas formas de comunicação ainda é desigual no campo. Contudo, suponhamos que em breve todas as dificuldades de acesso sejam superadas. Cabe aqui a seguinte pergunta: as novas tecnologias de comunicação mudarão a forma de se fazer a ATER?

As respostas ao questionamento dependem das diferentes visões do que deve ser a ATER. Uma dessas visões é aquela que defende os investimentos em tecnologia como um fator que auxiliaria na contenção de investimentos em recursos humanos, ou seja, faz parte de uma lógica de estado mínimo. A mesma visão que defende a iniciativa privada (empresas e multinacionais do setor agropecuário) como prestadora da ATER, sem qualquer intervenção do estado. Nesse caso, as novas tecnologias devem ser utilizadas para substituir os extensionistas rurais.

Outra visão também não abre mão das tecnologias, mas não as vê como substitutas dos extensionistas rurais. Concebe as novas tecnologias como instrumentos capazes de somar e  qualificar o trabalho da ATER. Nela, as tecnologias de comunicação são vistas como benéficas como, por exemplo, no aprimoramento dos trâmites internos das instituições. Isto possibilitaria maior presença dos extensionistas rurais no campo, já que reduziria as atividades “burocráticas” realizadas em escritório. Para essa visão, a necessidade da ATER estatal e pública não se altera com as novas tecnologias. A ATER segue sendo fundamental e deve ser ofertada para aqueles que não podem a contratar com recursos próprios.

Adjacente às duas visões de ATER apresentadas, está a concepção de desenvolvimento rural. Defender a primeira é considerar que os agricultores familiares só necessitam de ATER para questões relativas à produção e, até mesmo, que as recomendações sejam realizadas por empresas privadas à margem dos interesses públicos. Defender a segunda, é considerar uma ATER pública, que não despreza o papel dos extensionistas rurais e vê o rural de uma maneira muita mais ampla. Entende que a busca de qualidade de vida por parte das famílias vai muito além do que somente o acesso a oferta de recomendações técnicas para a pecuária e agricultura; diz respeito ao acesso à direitos e às políticas públicas, possibilidades de organização social e de participação em espaços coletivos públicos.

O desenvolvimento rural precisa ser discutido pela sociedade e não pode ficar à mercê somente da iniciativa privada. Para isso, uma ATER gratuita e pública, com tecnologias de comunicação e com extensionistas rurais, é fundamental.

(*) Robson Becker Loeck e Marines Rosali Bock são diretores da Associação dos Servidores da Ascar-Emater/RS – ASAE.