Visão sistêmica, luta de classes e extensão rural

 Visão sistêmica, luta de classes e extensão rural

Por Otávio Avendano de Vasconcellos*


Outro dia, relendo uma obra do tempo de adolescente do filósofo e físico Fritjof Capra chamada “A teia da vida”, remeti-me novamente ao pensamento do austríaco que aprofunda sua “visão sistêmica”. Ali, havia compreendido o conceito de que “o todo é mais do que a soma de suas partes”.

Curiosamente, percebo que as organizações pelo mundo inteiro que se afirmam como sendo “holísticas” fazem enorme esforço para essa ruptura de pensamento exclusivista, onde os títulos acadêmicos falam mais alto do que este “todo”. Afinal, o termo holístico vem do grego “holos”, que lembra justamente essa integração entre as partes.

A ciência de fato deparou-se com um pensamento nefasto e obscurantista, talvez de maneira tão grave quanto à interferência do clero no pensamento científico e mais do que nunca precisamos defender, preservar as pesquisas e a formação acadêmica, principalmente nesta verdadeira pandemia de cursinhos de final de semana que se pretendem tão valiosos quanto anos e anos de estudo. O respeito às formações necessita ser novamente valorizado.

Porém, muitas vezes cometemos um grave equívoco, andando na contramão do processo educativo e do desenvolvimento humano e das tecnologias, fazendo com que os títulos acadêmicos tenham mais valor do que os próprios indivíduos que os sustentam, até mesmo como se o valor humano pudesse ser mensurado dessa forma.

Pensando nisso, voltei a uma leitura ainda mais antiga, onde um certo sociólogo alemão sustentava uma visão sobre um fenômeno social marcado por uma oposição de ideias de grupos diferentes ao ponto de essa defesa ser feita com ódio e violência de classe. Sim, o ódio pode ser manifestado de várias formas, inclusive de maneira em que as pessoas se dividam em guetos e pensam que os seus clãs são os mais fortes. Realmente, esse comportamento pré histórico, evocado por Marx para enxergar as disputas entre as diferentes classes sociais, não é diferente da disputa de títulos, honrarias e comendas dos que pretensiosamente se esquecem do todo, que é maior do que a soma das partes.

Quando esse comportamento teima em permanecer em uma organização, algumas funções vão sendo enfraquecidas e uma visão de que o valor econômico é mais importante do que o valor social vai se fortalecendo. É somente um exemplo, mas essa luta pode ocorrer entre ambas as partes e quem perde são todos.

Embora precisemos defender valores que estão sendo desmontados, não devemos esquecer que o todo, quando se fragmenta, não passa de muitas partes isoladas. Afinal, muitos são os valores que sofrem desmonte, inclusive os de respeito.

A Extensão Rural, que convive o tempo todo com agricultores familiares e com públicos especiais, não pode perder de vista que foi a tentativa de tentar estar o mais perto possível do conceito do holístico que a fortaleceu. Disputas cegas e ferrenhas entre grupos não cabem mais na inteligência do ser humano.

* Otávio Avendano de Vasconcellos é ATA I – EMATER/RS-ASCAR do Escritório Regional Pelotas

ASAE

Posts relacionados